Capítulo I
Os
acontecimentos a seguir ocorrem entre 00h30m
Brasil –
Sorocaba-São Paulo – 00h01m
Gregório era
um jovem de vinte e dois anos de idade e trabalhava como repositor em um
pequeno mercado perto de onde morava. Gosta de ouvir Rock’n Roll clássico, como
The Beatles, Led Zeppelin e outras bandas. Às vezes, quando lhe vinha a
inspiração, costumava ouvir também blues e jazz, como Robert Johnson, Bob
Dylan, Eric Clapton, Jonny Cash e outros.
Gregório era
um jovem adorável, sempre tirava boas notas na escola e em dois anos de
faculdade levou apenas uma reprova em uma das provas mais difíceis do ano. Nada
que não pudesse recuperar: Alguns trabalhos extracurriculares e tudo estará resolvido.
A chuva se
formava nos céus da pequena cidade caipira do interior. Cidade de fábricas e
empregos duros. Alguns moradores diziam que não era qualquer pessoa que
conseguiria morar naquela cidade.
O céu claro
logo tomou o tom acinzentado, as nuvens negras anunciavam a grande chuva do
dia. Adeus calor! Bem-vinda chuva! Uhul! –Pensavam
alguns moradores aliviados pelo fim de mais um dia de calor intenso.
À meia noite
em ponto Gregório percebeu algo estranho em seu computador: O relógio avia
parado quando apontou meia noite um minuto.
Entendeu que
talvez o computador pudesse estar com problema. Resolveu então verificar o seu
celular. 00h01m.
Estranho... –Pensou.
Logo o
computador avisou sobre o status de rede de internet: Você está conectado à internet.
Eu sei... Eu estou usando o dia todo... –Pensou.
Mais um aviso
ocorreu dois minutos depois que os relógios pararam: Status: Potencialmente Desprotegido.
-Mas que
merda!
Ligou para o
seu amigo que com certeza estava acordado. Seu grande amigo Fernando. Conhecido
por suas façanhas nos computadores. Um grande mestre da computação e redes.
-Fernando? É
o Gregório, cara! Eae!
-Oi Greg! O
que manda?
-Que horas
são ae?
-Meia noite
e dez, porque cara?
-Meu relógio
parou aqui em casa. Meu velho, você poderia me ajudar?
-Claro!
Depois que
Greg explicou o que estava acontecendo, Fernando soltou uma gargalhada como se
estivesse passando por um filme de terror onde os relógios param e logo as
criaturas aparecem. Fantasmas, demônios, seres de outro planeta e outras
histórias que Fernando assistia em seriados.
-Cara! Você só pode estar de piada, não
é?
-É sério,
meu bom...
-Então faz o
seguinte, abre o menu iniciar e vai em configuração. Daí então você...
Gregório
seguiu todos os passos que seu amigo deu. Não adiantou. Relógio parado.
-Bom...
Então é melhor esperar os demônios cara. –Disse Fernando dando risada.
-Amanhã nos
falamos na faculdade. Daí quem sabe você venha para cá ver o que poderia estar
acontecendo.
-Sim, cara. Combinado.
Uma hora
depois de ignorar o problema do relógio parado, Gregório recebeu uma mensagem
em seu celular através de um aplicativo de bate-papo. A mensagem dizia: Status: Potencialmente desprotegido.
Em seguida,
outra mensagem, um sms. Quatro ruas.
Quatro esquinas. Quatro garotos.
Gregório
riu. Pensou diretamente em seu amigo Fernando.
Tenho certeza de que ela pegou outro número
de celular para me assustar.
Logo
Gregório resolveu responder o sms: Quatro
garotos e muito blues! Yeh! Yeh baby!
Em seguida,
Gregório lembrou do seu bom e velho violão, o qual o ajudou a se tornar um
grande músico e compositor. Greg montou uma banda quando tinha dezoito anos e
até hoje a banda tocava em alguns bares balados da cidade e região. A banda se
chamava B.F.S., que significava Blues in the Four Street. Blues
em quatro ruas. Nome escolhido pela história que ele e seus amigos tinham
com a banda.
Há cinco
anos atrás Gregório, Fernando e outros três amigos resolveram ir para uma
encruzilhada que ficava em um ponto cego da cidade. Um lugar perto do rio, com
muito mato e rua de terra com algumas poucas casas de tijolos sem pintura e com
portões velhos que mantinham fechados por cadeados de fácil arrombamento. Mas
afinal, quem gostaria de roubar uma casa pequena?
Fizeram um
juramento ao diabo. Para eles era mais uma piada, uma brincadeira pois os
jovens gostavam de Robert Johnson. Cada um pegou o seu instrumento. Gregório pegou
seu violão preto, Fernando o seu violão cor madeira, Jhonatan duas baquetas,
Paulo pegou o seu contrabaixo e Pricila levou duas teclas de seu piano. Teclas
que haviam quebrado alguns dias antes dela trocar por um piano novo.
Pela encruzilhada eu passei.
Aqui fiquei, aqui cantei.
Pelas ruas escuras eu senti.
E pude ver.
Notei, notei. Aquela mulher linda em forma
de anjo.
Asas nos faziam voar.
Voar para a música em nossos corações.
E logo o mundo ouviu nossas canções.
Melodias em nossos violões.
Pela encruzilhada eu passei.
E aqui eu fiquei, aqui eu cantei.
Cinco meses
depois dessa brincadeira eles lançaram três músicas na internet. Resolveram
publicar três músicas no site da banda para tentar adquirir público. Cinco
bares de Rock’n Roll os chamou para tocar, cinco dias depois das três músicas
irem ao site.
Fizeram
então um ensaio de vinte e três músicas. Cinco meses depois um empresário
entrou em contato.
-O som de
vocês tem magia. Tem objetivo. Tem talento. Tem dom. Tem amor pela música.
Não é
necessário dizer que a banda passou a ter um empresário.
Na casa de
Pricila algumas coisas estranhas começaram a acontecer na mesma noite em que os
relógios de Gregório pararam. A jovem e linda moça de vinte e cinco anos de
idade, passou a ouvir alguns rosnados que vinha do lado de fora da janela de
seu quarto. Pricila então levantou-se de seu computador onde estudava e
caminhou até a janela de seu quarto. Com suas delicadas e pequenas mãos, ela
afastou as cortinas brancas de pano fino e viu do outro lado da rua, cinco
cachorros pretos parados encarando a casa da moça.
Sentiu então
um frio na espinha, sua nuca e seus braços arrepiaram enquanto ela ligava para
polícia.
-Polícia
Militar, boa noite. Em que posso ajudar?
-Oi, boa
noite. Meu nome é Pricila e tem cinco cachorros na frente da minha casa. Eles
estão encarando o meu quarto e rosnando.
-Certo.
Cinco cachorros? Eles estão apresentando alguma doença? Consegue ver se estão
espumando pela boca?
-Não. Eles
estão normais. Mas parecem bem zangados.
-Você os viu
na rua alguma vez? Os alimentou ou deu atenção para eles?
-Não senhor.
Eu nunca os vi.
-Estaremos
enviando uma viatura até o local.
-Obrigada.
-Disponha da
polícia militar.
Depois de
vinte minutos de espera, enquanto Pricila olhava pela janela da sala de sua
casa, ela viu a viatura da polícia virando a rua. Abriu a porta e notou que os
cães já não estavam mais ali. Um copo caiu na cozinha de sua casa, fazendo um
barulho estrondoso e assustando a jovem moça que estava para cair em lágrimas a
qualquer momento.
A viatura
parou na frente de sua casa e dois homens grandes saíram caminhando em direção
à porta principal da casa.
-Boa noite. –Disse
um dos policiais enquanto tirava a boina de sua cabeça.
-Boa noite.
-Pricila? –Perguntou
o outro policial com uma prancheta nas mãos.
-A senhorita
ligou para nós dizendo que haviam cinco cães de cor preta rosnando e olhando
para a casa da senhorita?
-Sim senhor.
-E onde
estão?
-Eles... –Pricila
pensou- Eles estavam ali, naquela esquina.
-E como você
os viu?
-A janela do
meu quarto fica de frente para a esquina. Eu ouvi rosnados e fui até a janela
para ver.
-Certo. E
onde estão eles agora?
-Eu... Eu
não sei... Eles estavam ali até vocês virarem a rua...
Os dois
policiais se entreolharam como se ela fosse maluca.
-A senhorita
usa algum tipo de drogas ou algum remédio controlado?
Ela riu com
sarcasmo e irritação.
-Claro que
não!
-A senhorita
bebeu hoje, Pricila? –Disse o policial com uma lanterna acesa apontada para os
olhos da jovem moça assustada.
-Eu não
bebo! –Disse ela irritada tentando desviar da luz que acegava.
-Certo.
Então a senhorita está dizendo que haviam cinco cães de cor preta rosnando e
encarando sua casa. Encarando a janela de seu quarto. Mas ao virarmos a rua em
direção a sua casa, eles... Sumiram?
Pricila
ficou olhando para os policiais sem saber o que dizer.
-Bom.
Encaminharemos o relato para do departamento responsável por animais. Entre em
contato se os... Se os cães voltarem.
-Obrigada.
Ao fechar a
porta, Pricila caminhou até a cozinha onde varreu os cacos de vidros e em
seguida preparou uma xícara de café forte.
Aonde está o meu maço de cigarros? –Pensou
enquanto ia ao seu quarto procurar pelo maldito cigarro que a mataria de câncer
futuramente.
Depois de
achar o seu cigarro e de pegar sua xícara de café, a jovem moça sentou no sofá
da sala de estar e ligou a televisão onde assistiu os noticiários. Só se via
notícias ruins. Inflação subindo, desastres naturais ao redor do mundo, guerra,
prisões, crimes e futebol.
Pegou no
sono rapidamente. Mesmo bebendo café forte, ela estava cansada de mais. Tragou
o cigarro e o apagou. Colocou sua xícara em cima do criado-mudo e então se
ajeitou para dormir.
Continua...
___
Por: Vinícius R.N.M. (Joey Spooky Rose)