CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA

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sábado, 6 de abril de 2013

Dallas


Autor: Joey Spooky Rose

- ­Dallas-


Roger e eu iríamos passar alguns meses de férias numa pequena cidade chamada Tristan. Era uma pequena cidade, tranquila, onde poderíamos relaxar tranquilamente.
O problema é que o nosso carro acabou quebrando no meio da estrada deserta e pouco escura, onde se encontrava do lado esquerdo um posto de gasolina com um pequeno restaurante, o qual havia no máximo cinco pessoas, tirando as que trabalhavam ali. Do outro lado tinha apenas árvores.
Paramos o carro Toyota no posto de gasolina, comemos alguma coisa rápida na conveniência e então procuramos saber onde ficaria a cidade mais próxima.
-A cidade próxima não fica muito longe, seguindo a frente da estrada vocês verão uma placa velha com o nome de “Dallas” mandando virar à direita e na mesma placa outra cidade, que indica para continuar a frente. Não vá para Dallas, vá para a cidade seguinte, que não é tão longe. Acabei de dar uma olhada no seu carro, o problema não é muito grande, mas também não sei dizer ao certo o que é. Vá até a cidade Jaurus que lá terá um mecânico para dizer melhor o que houve com o carro. Seu carro aguentará chegar tranquilamente até Jaurus.
Informava o frentista do posto de gasolina.
Seguimos em frente ainda com o carro um pouco ruim. Quando chegamos perto da placa descrita pelo frentista, o carro começou a piorar. O som que Roger ouvia no carro começou a desligar e ligar sozinho, o carro fez um barulho estranho como se fosse parar de vez. Foi nesse momento que Roger e eu olhamos para a direita e seguimos para a pequena cidade chamada Dallas.
A cidade estava deserta, alguns gatos caminhavam pelas ruas. E nada mais.
Vimos uma placa velha com uma luz vermelha escrita “Hotel”, o H estava quebrado, pendurado sob a janela do alto.
Entramos no hotel. Ao abrir a porta, ouvimos um barulho, “tim dim” e o porteiro caipira, com o que parecia ser um palito de dente na boca, uma camiseta regata branca um pouco suja, um boné velho sujo com graxa e com barba no rosto, nos atendeu...
-Querem um quarto? Temos o 301 disponíver.
Roger estava pasmo com o tamanho da barriga de cerveja do porteiro, que foi direto ao assunto com um sotaque que puxava o R e sem nenhuma educação.
-Gostaríamos sim e você poderia nos dizer...
Roger foi cortado na hora pelo caipira.
-É por aqui senhores.
O caipira andava de vagar, o que me irritou um pouco, pois Roger e eu estávamos cansados e queríamos dormir logo.
-O quarto tem duas camas, um em cada cômodo, um banheiro em cada quarto, uma sala na entrada com TV e outras coisas.
-Ficaremos com ele. Obrigado.
O caipira sem disfarçar, ficou na porta no lado de dentro do quarto, olhando para Roger e para mim, esperando uma gorjeta. Roger com sua educação deu a gorjeta para o caipira, mas o infeliz caipira que fedia a cigarro e cerveja continuou olhando pra mim. Acabei por dar um trocado para ele.
No dia seguinte procuramos dar uma volta pela cidade e procurar saber sobre sua história.
Conhecemos uma velha senhora, a única que foi simpática, pois o resto da cidade nos olhava como um olhar de medo.
-Vocês estão hospedados em qual lugar?
Dizia a velha senhora trocando o L pelo R.
-Estamos naquele velho hotel.
-É um lugar ótimo para ficar.
-Sim. –disse Roger, continuando o assunto ao olhar para um casarão velho do outro lado, no fim da rua- E aquele casarão velho?
A senhora ficou um pouco tensa e se calou por segundos, percebemos que algo havia de errado com a casa ou com ela.
-Você está bem senhora?
-Ah... Ah! Sim! Sim, estou bem...
A velha ainda assustada nos contou uma história um pouco intrigante, porém, que fazia Roger achar graça.
A velha nos chamou antes, para irmos a casa dela para tomarmos um café e comer uma torta de limão que ela havia feito horas antes. A qual estava maravilhosa.
Pois bem, a história que ela contou foi a seguinte:

Talvez vocês não conheçam a história da casa de Lusia...
Uma história que acabou virando motivo de risada para muitos e motivos de pavor para todos que vivem neste povoado.
Um motivo forte o suficiente para não irmos naquele local.
Anos atrás esta cidade era uma cidade bem frequentada, o comércio era grande, o prefeito ainda mantinha a cidade lá em cima, sabe? (perguntou à senhora, como se soubéssemos de algo para concordar).
Naquela casa houve uma grande tragédia. A mãe de duas filhas afogou uma delas na banheira, enquanto a outra ela esfaqueou. A parte de cima da casa se encheu de sangue que se misturou com a água da banheira, que escorria pelas escadas até a sala principal e a mãe delas se enforcou no porão.
Uma vez um jovem rapaz e uma linda jovem entraram lá dentro, passaram um dia lá vasculhando tudo. No dia seguinte saíram bem cedo, ainda com o sol começando a nascer.
Eles correram até o carro e saíram correndo, sumindo na estrada. Estavam bem assustados.
Alguma coisa havia acontecido lá e...
E a velha senhora abaixou sua cabeça e parou de falar. Como se tivesse falado de mais.
Ela então continuou:
“E sabemos bem o que é. Nunca entrem lá.”.

Como se já não bastasse a história horripilante de uma velha senhora, a qual morou anos e anos, até agora nesta cidade, Roger se interessou em ir naquela casa. Voltando ao hotel, ele me convenceu –pois eu também estava curioso- para irmos passar uns dias lá.
Pegamos nossas coisas, deixamos no carro e então partimos com um pouco de comida e água e uns maços de cigarro. A casa, embora o lado de fora estivesse muito velho, o lado de dentro estava perfeito. Como se fosse uma casa “nova”.
Passamos três dias lá e nada...
Voltávamos algumas vezes para o quarto do hotel para comer e tomar um banho. O banheiro da casa ainda nós conseguíamos usar para fazer algumas necessidades.
Como Roger e eu vivemos juntos desde a infância, não vimos problema em dividir a cama e que assim seja.
No quarto dia começamos a ouvir barulhos nas paredes, como se fossem ratos.
Era uma hora da manhã e eu acordei assustado.
-Roger?
-São ratos... Apenas ratos.
E logo voltei a dormir. Roger também havia acordado por causa dos barulhos e logo voltou a dormir, ignorando-os.
Passamos uma semana dentro da casa e nada havia acontecido. Roger ainda duvidando do que dizia ser “loucura” dos moradores, decide passar mais uma semana no casarão. Por essas e outras, eu também decido acompanhar meu amigo.
Na semana seguinte, começamos a vasculhar a casa.
O primeiro ponto foi na biblioteca. Achamos livros e revistas empoeirados, mesinhas antigas, poltronas que daria para desenhar ou escrever algo entre a poeira.
Subimos então no quarto das duas meninas e o quarto da mãe. Depois descemos até a cozinha e nos maravilhamos novamente com tremenda beleza de arquitetura daquele casarão.
Podíamos passar meses naquela casa, que ainda continuaríamos apreciando maravilhosamente cada tom de tinta nas paredes, cada ponto de arquitetura...
Enquanto vasculhávamos os quartos, começamos a achar objetos e algumas manchas mas paredes e chão. Manchas fracas, mas ainda manchas. Certamente do assassinato e suicídio.
Logo de noite o mais assustador aconteceu. Roger e eu acordamos e fomos até a cozinha ver o que era aquele barulho em plenas duas horas da madrugada.
Roger soltou um grito e então saiu correndo pela porta da entrada ficando no meio da rua parado, paralisado.
-Roger volta aqui! O que é isso! Meu Deus! Roger! Roger!
E ele ainda ficava parado.
-Louis! Não! Louis!
Pela parede da cozinha, parecia estar saindo um espectro, um rosto distorcido com a boca aberta, como se estivesse gritando. Escutei então um grito em um dos quartos das crianças, Roger saiu correndo e foi comigo ver o que era.
-Cara! Vamos sair daqui! Vamos Louis!
-Você queria ver não queria?! Agora vai aguentar, vamos até o fim!
Antes de subirmos as escadas, vimos água e sangue no chão, escorrendo pela escada até o piso térreo da sala principal.
Roger ficou muito assustado e mesmo assim continuou comigo, tentando descobrir o que havia acontecido e o que seriam aquelas visões que mais parecia coisa de nossa cabeça.
Subimos as escadas bem de vagar, com medo o que poderíamos ver ou do que poderia acontecer.
-Ei...Louis. Essa boneca estava aqui antes?
-Não Roger, você a deixou aí?
Roger me olhou assustado e a única resposta que obtive foi uma voz que ecoava pela casa, como se fosse um salão vazio...
Uma risada que arrepiou a nuca de minha alma. Uma risada bizarra e perversa, como se estivesse tramando algo. Foi quando então Roger gritou “Meu Deus!” e eu imobilizado, só pude ver, sem poder correr. Era como um sonho, do qual você tenta correr o mais rápido que pode e mesmo assim continua parado ou caminhando desesperadamente.
-Louis! É a mãe que se matou depois de matar suas filhas!
-Sim Ro... Roger! É a Lusia!
Nitidamente pudemos ver o espectro de Lusia, um fantasma, uma criatura, seja lá o que fosse aquilo, era de mais para a nossa cabeça!
Senti como se meu corpo tivesse tomado um choque, como aqueles sonhos que estamos descendo uma enorme escada e caímos lá de cima e antes de bater a cabeça, acordamos com um grande susto. Dizem que nosso espírito volta ao corpo forçadamente quando isso acontece.
Senti o fantasma de Lusia atravessar meu corpo e vimos ele correr para o banheiro.
No quarto de Lusia, seu corpo ainda estava lá. Um esqueleto caído ao chão com uma corda no pescoço, um esqueleto que parecia ter vida, que parecia nos olhar, olhar no fundo de nossas almas. Neste momento então a água da banheira começou a jorrar como se o cano tivesse quebrado.
Corremos então para o banheiro e vimos às duas crianças. Ou melhor, dizendo...
O FANTASMA DELAS!
Elas cantavam e seguravam uma boneca. Giravam lentamente seu corpo para um lado e para o outro. Roger estava em choque, não conseguia falar, muito menos andar. Assim como eu.
-Venha brincar com a gente...
Disse uma das meninas, com sua voz doce e mansa ecoando pela casa.
Seu vestido branco então começou a ficar vermelho, manchas de sangue tornava aquele branco neve em um forte vermelho sangue! Os cortes começavam a aparecer, enquanto a mãe ao lado da banheira, perto da janela assistia chorando com um olhar assustado. Friamente assustado.
A outra menina por sua vez começou a cuspir água, sua pele branca e fina se enrugou e então seus lábios começaram a ficar roxos, seus olhos com olheiras pretas e seu cabelo um tom de preto esverdeado. Seus olhos ficaram brancos e sua cabeça se elevou para cima e sua coluna partiu ao meio.
Dava pra ouvir o barulho dos ossos quebrando!

Roger e eu então corremos, quase caímos na escada e antes que saíssemos para a rua, paramos e olhamos para cima. Ali estavam paradas a mãe e suas duas filhas na sua frente.
A família estava unida. O horror tomava conta. O pânico, o susto, o irreal, hoje sabemos o verdadeiro sentido do medo.
Naquele momento vimos todas as nossas brincadeiras de criança passando em nossa cabeça rapidamente. Como aquela brincadeira do copo...
Roger e eu então corremos para o hotel, pegamos nossas coisas e então entramos no carro.
Na cidade não havia ninguém nas ruas, nas casas, a pequena população havia sumido.
Quando entramos no carro vimos um grande cachorro preto parado no meio da rua. Foi quando acelerei o carro e por um milagre, ele saiu queimando pneu e rapidamente já estávamos na estrada, rumo à cidade Tristan.
Quando estávamos já na estrada, vimos um palhaço com balões parado apontando o dedo em direção ao nosso carro, rindo, rindo muito. Certamente quase morrendo de rir.
Achamos bizarro, mas ainda seguimos em frente. Foi quando Roger deu um grito.
-Meu Deus!
O carro derrapou, capotou na ribanceira da floresta.
-Roger! Você está bem?
Quando perguntei a Roger se ele estava bem, percebi que ele estava morto e que o palhaço havia sumido. Corri novamente até a ribanceira e rapidamente, como um animal selvagem, escalei-a até a estrada. Lá de cima vi o palhaço no carro, em pé, do lado do cadáver de Roger. O palhaço estava com a boca aberta com cara de culpado e então em seguida começou a rir, acenando um tchau para mim. Um balão então saiu de dentro do carro, que dizia “Kiss my crazy, your crazy is your love and life!” “Beije minha loucura, sua loucura é seu amor e vida!”.
O balão estourou no ar, jorrando uma enorme lama vermelha, que mais parecia sangue.
Eu corri, corri o máximo que pude e ainda caminhando cansado na estrada, avistei Tristan.
Foi lá que recebi tratamentos como alimentação, banho e psiquiatra.
Fiquei cinco anos internado em um hospício. O mesmo foi incendiado por um acidente, onde todos morreram. Inclusive eu.

-J.P. Rose-